Nos dias 3 e 4 de abril, a Transpetro realizou um evento pioneiro: o Seminário Cultura Indígena e Tradicionalidade. O evento reuniu saberes e vozes da companhia junto às empresas terceirizadas e povos indígenas. Participaram representantes da Transpetro (lideranças, representantes de Responsabilidade Social e Faixas de Dutos de Norte a Sul), lideranças indígenas e representantes de universidades. O seminário é uma realização da UO Norte, juntamente com as áreas de Responsabilidade Social e Recursos Humanos. Aproximadamente 150 pessoas participaram presencialmente.
Um dos objetivos do evento foi fundamentar a execução dos Programas de Educação Ambiental para os Trabalhadores (PEAT). Essa troca de experiências teve por finalidade orientar os colaboradores que atuarão nas atividades contempladas no Plano Básico Ambiental (PBA) no território Cajuhiri Atravessado, e em outros territórios tradicionais pelo Brasil. A programação incluiu uma prática em grupo para a formação de multiplicadores para expandir a capacitação sobre a temática junto a colaboradores que irão adentrar a terra indígena. Fez parte da programação da formação uma visita à aldeia Tupã da Fazenda, no segundo dia de atividades.
Segundo a gerente geral de Comunicação e Responsabilidade Social, Aline Pereira Soares, o primeiro Seminário de Cultura Indígena e Tradicionalidades é um marco para a Transpetro liderar a temática dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS´s) e Direitos Humanos, no relacionamento com os povos originários.
“É uma vivência inovadora de intensa integração da Transpetro, de norte a sul do país, um deslocamento muito potente para o Relacionamento Comunitário para as equipes que atuam diretamente em comunidades indígenas, das gerências de Responsabilidade Social, Unidade Organizacional do Norte - Faixa de Dutos, de Recursos Humanos em parceria com Funai, Sebrae, absorvendo muitas experiências e saberes com os povos indígenas Miranha, Tikuna e Baniwa”, pontuou a executiva, destacando a participação da doutoranda indígena Valéria Marques, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das 120 pessoas indígenas do Brasil que estão no meio acadêmico atualmente.
Karen Aragão, gerente setorial de Relacionamento Comunitário, falou sobre a emoção de realizar um evento após dois anos de início do trabalho com a comunidade indígena do Cajuhiri Atravessado. "O 'abraço' da UO Norte tornou-se referência para todo o país, nesta ação que representou múltiplos desafios e oportunidades de aprendizado, e que pode ser compartilhado agora com outras regionais", disse a gerente.
Gerson Nogueira, gerente geral da UO Norte, ressaltou que quem está na Amazônia sabe que o indígena existe e reconhece a sua existência. Mas quem está fora, possivelmente, não percebe. "O indígena fica invisível. Ele tem cultura própria, relação diferente com a terra. Precisamos entender isso. Não existem fórmulas, por isso, eventos como esse são tão importantes", disse.
O evento surgiu como uma demanda da Funai sobre a necessidade de fazer o aprofundamento sobre a temática de saberes, conceitos e legislação para a força de trabalho mobilizada a trabalhar na terra indígena. Luís Fernando Santos Araújo, gerente setorial da UO Norte, agradeceu o comprometimento de todos os envolvidos nessa realização. "Foi um evento transformador, tão rico e disruptivo, com muito aprendizado e quebra de preconceitos vindos desde o período colonial que até hoje estão muito presentes em nossa sociedade", disse o gerente.
Conhecimento
O que precisamos saber para termos uma atuação atenta e responsável nos territórios indígenas? Essa foi a pergunta geradora que orientou todo o evento. Karen Aragão frisou que o conhecimento precisa perpassar todos que estão no território onde estamos trabalhando, e não somente a linha de frente. "A prática de ouvir os instrumentos de medição é comum na área técnica. Precisamos ter o mesmo cuidado ao adentrar um território tradicional: ouvir as pessoas", disse.
A mesa diretora do Seminário foi composta por Gerson Nogueira de Melo Araújo, gerente geral da UO Norte, Shirlei Araújo, profissional responsável pelos processos de Direitos Humanos da Transpetro, Valéria Marques, Baniwa, socióloga e doutoranda em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social pela UFRJ, Alessandra Schmitt, indigenista da Funai, e a cacica Coca, da aldeia Tupã da Fazenda.
Shirlei Araújo, de origem afro-indígena – sua avó era Krenak –, reforçou a importância e o poder do conhecimento dentro desse contexto, ressaltando que hoje em dia há muitos livros interessantes de autores indígenas para embasamento. "O Brasil é a terra dos mil povos. O europeu nos separou desse princípio, e precisamos reaprender a pisar com cuidado na terra, de forma leve e respeitosa", afirmou a responsável pelos processos de Direitos Humanos da Transpetro.
A cacica Coca falou sobre o contato com a Transpetro, que vem atendendo às expectativas de todo o grupo. "Para mim, foi uma surpresa esse contato com vocês; experiência maravilhosa. Em Coari, existem 11 ou mais etnias. Se nos unirmos, a cada dia mais, vamos conseguir nossos objetivos."
Seu filho Rosivan também reforçou a importância do conhecimento e do sonho das 12 casas, cuja construção faz parte do PBA. "Nosso território tem muita castanha e açaí. Queremos trabalhar a partir deste aprendizado, precisamos obedecer a legislação e conquistar mercado", comentou.
Parceria
Os indígenas da etnia Miranha, há muitos anos, passaram por vários processos de ruptura cultural. Agora, por meio do PBA, aprovado junto com as aldeias e a Funai, têm novas perspectivas para se fixarem em sua terra. O convênio, assinado em julho do ano passado, contempla orientações para os indígenas em quatro frentes: empreendedorismo, associativismo, inovação e consultoria técnica rural.
A indigenista da Funai Alessandra Schmitt compartilhou um histórico sobre a legislação brasileira voltada à questão. A Constituição Federal de 1988 deu mais ênfase sobre língua e terras.
De forma muito potente e emocionante, a socióloga Valéria Marques relatou a história de sua família, que inclui expulsão de território e separação de familiares. "Estamos há 522 anos sofrendo perdas. Mas resistentes, reexistindo e com ouvidos abertos para aprender. O censo nos apagou no Brasil. Sempre tivemos apagamento da cultura, história", declarou a doutoranda da UFRJ, que ainda compartilhou com o público alguns conceitos sociológicos fundamentais para a temática, como: colonialidade (trazendo como exemplo quando exigem que se prove que é indígena), colonização (no Brasil, processo histórico imposto de apagamento das culturas existentes através de uma sobreposição hegemônica europeia) e epistemicídio (matar o “saber” para dominar).
No encerramento do evento, Karen Aragão externou sua satisfação em realizar esses dois dias de aprendizagem intensa durante o seminário, coroando o processo de construção colaborativa desse programa: “Escrevemos o PBA e criamos as responsabilidades juntos, sonhando sem limites. A partir deste plano, surgiram convênios, contratos, a criação e regularização da Associação, com o fortalecimento de organizações comunitárias. Estamos celebrando a concretização dos primeiros frutos colhidos desse trabalho árduo, mas tão inspirador.”
Seminário em Coari (AM) aprofunda atuação Transpetro em territórios tradicionais